“Cinematography In Progress”
2015-01-12
Texto: Tony Costa
O primeiro encontro em Munique
Em Abril de 2012, por iniciativa do francês Jean-Paul Jarry, Formador na Escola 3iS, houve um primeiro encontro que teve lugar em Munique, na Escola de Cinema de Televisão HFF (University of Television and Film Munich), no qual estiveram presentes apenas quatro Escolas, sendo evidente que a grande preocupação de momento era, sem dúvida, saber se se mantinham os mesmos métodos tradicionais para o ensino de cinematografia.
A conclusão foi óbvia e unânime, ou seja, que o ensino com película se deveria manter até onde fosse possível, mesmo que se tivesse que enviar o negativo para revelar fora do país. Era, ainda, o melhor método para ensinar a captar a imagem para Cinema. Acrescentou-se, também, que o método obrigava os alunos a manter a disciplina de rodagem ao contrário do digital que não impõe, em termos de custos, a disciplina de gastos ao contrário da película.
O Relatório deste encontro encontra-se neste link .
O Questionário Australiano.
No ano seguinte, na primavera de 2013, por iniciativa do australiano Nicholas Oughton da “Griffith Film School – Brisbane” (Austrália), foi distribuído por todo o mundo um questionário, cujo conteúdo pode ser lido neste link.
Paris e Poitiers
Entretanto, em Fevereiro de 2013, a GEECT/European Film School Network organizou conjuntamente com a Escola La Fémis, também em Paris, um debate sobre o mesmo assunto, não se tendo chegando, contudo, à fase de avaliação do relatório de Munique, dado que este, quase um ano após a sua realização, ainda não tinha sido elaborado.
O mesmo relatório, entretanto concluído, apontava o facto de não se ter chegado a qualquer conclusão concreta, pelo que se devia manter a mesma ordem de ideias do ensino tradicional, dado ser este, apesar de tudo, ainda o ideal.
No mesmo ano, em Novembro, em Poitiers (França) no Festival Internacional de Escolas de Cinema, foi organizado um debate entre Escolas alargado a diferentes países incluindo o Médio Oriente, no qual a película versus digital foi o tema dominante.
Tendo este debate sido, de certa forma, insatisfatório, pareceu a alguns dos presentes que havia necessidade de ser feito um Congresso onde Professores, Alunos e Profissionais se pudessem encontrar e discutir o futuro do ensino da imagem cinematográfica, assim como o futuro da direção de fotografia no seu todo.
Por iniciativa de Marc de Backer, Jean-Paul Jarry e de eu próprio, decidiu-se organizar um Congresso no qual se pudesse falar e debater o problema de fundo, de forma a encontrarem-se os meios mais adequados para se lidar com a situação criada, tendo assim surgido o “Cinematography in Progress”.
Congresso “Cinematography in Progress”
O Congresso realizou-se em Bruxelas, no primeiro dia na Aula Magna de Louvain la Neuve, e, no segundo dia, na Cinemateca, tendo contado com 50 participantes, entre os quais Professores, Profissionais de Câmara e Alunos, contribuído todos com as suas experiências, tendo-se constituído para o efeito Grupos de Trabalho divididos por 5 mesas temáticas, tendo cada uma a responsabilidade de discutir um dos temas abaixo:
1) Tecnologia de Câmara;
2) Utilização do monitor para controlo de qualidade e estética de imagem;
3) Sensitometria e Workflow Digital;
4) Correção de Cor;
5) Direção de Fotografia e Efeitos Visuais.
O Grupo “Tecnologia de Câmara” foi liderado por Esselen Claude (IAD/Eye lite), Didier Frateur (SBC/RITS), o de “Utilização do monitor para controlo de qualidade e estética de imagem”, por Louis Philippe Capelle (SBC/IMAGO), o de “Sensitometria e Workflow Digital” por Jean Paul Jarry (3IS), Philippe Ros (AFC) e Tony Costa (Univ.Lusófona/IMAGO), o de “Correção de Cor” por Arnout Deurnick (RITS), Ella Van Den Hove (SBC/INSAS), Olivier Pirnay (IAD) e Humblet Aude (Lab. Éclair Paris), cabendo o de “Direção de Fotografia e Efeitos Visuais” a Lucas Jodogne (SBC), Willy Stassen (SBC) e Kommer Klein (RITS).
O importante nas várias discussões a nível de cada Grupo de Trabalho era, de facto, saber se seria necessário aplicar novos métodos de ensino da imagem para o Cinema, tendo-se concluído por unânimidade que o ensino em película ainda é o método mais eficaz para a transmissão de conhecimentos de um modo mais sólido no que respeita ao domínio da fotografia cinematográfica.
A conclusão geral é que a película ao não permitir visualizar de imediato o resultado da imagem no ecrã obriga os alunos a ter muito mais atenção aos detalhes técnicos, assim como imprimir uma disciplina de trabalho que não é possível num ambiente de captura em digital. Para além deste facto os focos estão também na mesma linha, sendo uma prioridade no ensino da fotografia cinematográfica dada a sua importância.
Na verdade houve um consenso que o ensino com o método tradicional é o mais eficaz para aprender a trabalhar com o formato digital. Para além deste facto houve também a conclusão de que seria prioritário “educar o olhar”, não haver apenas uma abordagem técnica mas também artística e filosófica de forma a tornar o Diretor de Fotografia um líder na sua área, desde a captura da imagem até à correção final de cor.
Uma outra conclusão a que se chegou foi o da necessidade de ensinar a História da Arte, assim como a História do Cinema, e, em particular, a História da Fotografia cinematográfica, dado não ser muito comum a disponibilização de informação concisa, e abundante, a não ser em alguns livros como “Making Pictures” (editado pelo IMAGO) e o mais recente, com assinatura de Vittorio Storaro, “The Art of Cinematography”, o qual faz uma seleção dos que considera serem os 150 livros mais significativos em termos de fotografia cinematográfica.
Não há, contudo, uma historiografia completa como se pode encontrar na montagem ou realização. A maioria dos livros é de teor mais técnico do que artístico.
Na questão digital também foi unânime que o futuro Diretor de Fotografia terá que dominar as ferramentas de pós-produção no domínio da correção de cor. Aliás ser-lhe-á essencial, caso pretenda ter o controlo autoral da obra, e, daí ser fundamental obter fortes conhecimentos do todo o worklflow de imagem, pelo que, para tal aconteça, as Escolas terão obrigatoriamente que se equipar.
Em relação às questões de exposição é essencial o uso de ferramentas auxiliares para a obtenção de uma imagem correta, tais como vectorscópios ou histogramas, mas no essencial o uso do fotómetro deveria ser incentivado para controlo adequado de contrastes e de intensidades de luz quando se está a fotografar.
Conclusões
Muito resumidamente, pode considerar-se que se chegou às seguintes conclusões:
O relatório final completo será publicado em breve no site da IMAGO.
Escolas Representadas no Evento
Universität für Musik und darstellende Kunst (Aústria), IAD (Bélgica), INSAS (Bélgica), INRACI (Bélgica), MDA/FAC (Bélgica), Den Danske Filmskole (Dinamarca), Europa Film College (Dinamarca), ELO (Finlândia), FEMIS (França), 3IS (França), University of Ulster (Irlanda do Norte), Latvian Academy of Culture (Letónia), Unitec (Nova Zelândia), Universidade Lusófona (Portugal), National University of Theatre and Film (Roménia), Bucharest Film School (Roménia), NTU/ADM (Singapura), Okan Üniversitesi Tuzla Kampüsü (Turquia), London Film School (Reino Unido), Farnham Film School (Reino Unido) e AUB (Reino Unido).
Sites a visitar:
Escola de Cinema de Televisão HFF
IMAGO Book - Art of Cinematography
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