2015-11-23
Texto: Carlos A Henriques
O Cinema, enquanto arte, diversão, informação e repositor de trechos históricos da nossa civilização, tem encontrado em si próprio razões suficientes que justificam o seu desenvolvimento, contudo, graças ao aparecimento da Televisão, seu “inimigo” de longas batalhas, esse mesmo desenvolvimento sofreu uma aceleração ao ponto de algumas das datas marcantes da sua história estarem estritamente ligadas a algo que a Televisão despoletou.
Do ponto de vista estratégico o CinemaScope deve o seu aparecimento, em termos gerais, à necessidade de levar às salas de Cinema o público que perdeu a favor do arranque da Televisão a cores na América, ou seja, o aparecimento do sistema NTSC (National Television System Committee), em 1953, dado que até à data o Cinema usar, fundamentalmente, o formato de imagem conhecido por Academy (1.375:1), assim como o 4:3 (1.333:1), sendo este último o adoptado naquele período pela Televisão.
Com o mesmo propósito foram apresentados, em 1952, sistemas inovadores para o Cinema como o Cinerama e o Cinema 3D, contudo sem o sucesso esperado e longe de alcançar o entusiasmo do público e dos estúdios na mais valia trazida pelo CinemaScope.
Spyros P. Skouras
O nascimento do CinemaScope deu-se graças ao trabalho realizado pelo Departamento de Investigação e Desenvolvimento dos estúdios Twentieth Century-Fox, graças à ação do seu presidente de então, Spyros P. Skouras, um emigrante grego, o qual tem sido considerado como o percursor dos chamados formatos “widescreen”.
Contudo, este sistema, que custou à Fox 10 milhões de dólares, teve um período de vida muito curto, concretamente entre 1953 e 1967, tendo, porém, deixado na história do Cinema uma carteira de filmes muito rica, dos quais se destaca “The Robe”, o qual foi o 1º filme a ser exibido em CinemaScope, no dia 16 de setembro de 1953 no Roxy Theatre (New York), cujo custo de produção rondou os 4,7 milhões de dólares, apesar de o 1º filme a ser rodado com esta característica ter sido “How to Marry a Millionaire”.
O primeiro filme de animação a recorrer a este processo foi “Lady and the Tramp”, produzido em 1955 pelos estúdios da Walt Disney Productions.
O sistema baseava-se na utilização de objectivas anamórficas tanto no ato de captação como no de projeção, ou seja, recorria a um formato de imagem 2.66:1, cerca do dobro dos formatos convencionais então em uso, contudo, através da aplicação de uma objectiva anamórfica na película virgem de 35mm eram registadas imagens com o formato 21,95:18.6, quase quadrado, o que lhes conferia o aspecto de imagens esticadas na vertical quando se observava um fotograma.
Na projeção o processo era inverso, que o mesmo é dizer, a partir de uma película de 35mm na qual estavam impressas imagens com um formato 21,95:18.6, este era convertido para 2.66:1 recorrendo-se a uma objectiva anamórfica cuja lógica de funcionamento era a inversa da utilizada pela objectiva de captação.
A base de desenvolvimento do CinemaScope assentava num sistema desenvolvido em 1926 pelo Professor Henri Chrétien, de origem francesa, cujo nome de patente corresponde a “Hypergonar”, o qual recorria ao chamado princípio “Anamorphoscope”, ou seja, a uma compressão/expansão do formato de imagem no sentido horizontal, o qual já era usado pelos pintores de alguns séculos atrás como o quadro “The Ambassadores” (1533) do pintor alemão Hans Holbein (Jovem).
Naquela época a indústria cinematográfica andava muito ocupada a tentar resolver outros problemas tais como o desenvolvimento do Cinema Sonoro, o que veio a acontecer no ano seguinte com o filme “The Jazz Singer”, não tendo dado ao sistema de Henri Chrétien a devida atenção.
Graças ao sucesso alcançado com o CinemaScope os estúdios de Hollywood entraram em grande euforia o que se traduziu para a Fox num enorme lucro proveniente tanto das bilheteiras como das licenças entretanto adquiridas pelas majores, que o mesmo é dizer pela Columbia Pictures, MGM, Universal Pictures, Walt Disney Productions e Warner Brothers.
As licenças eram atribuídas a troco de 25.000U$D por filme, o qual tinha que ser feito com a característica cor, cujo argumento carecia aprovação da Fox, recebendo o licenciado um par de objectivas e a respectiva autorização para uso do nome CinemaScope nas suas obras.
Há que destacar o facto de o sistema CinemaScope não ter sido uma simples inovação tecnológica mas sim uma complexa estrutura constituída por várias lentes, de rearranjo das pistas de áudio, assim como uma profunda alteração no modo como os ecrãs passaram a ser construídos e as salas de exibição completamente remodeladas.
Em quatro anos cerca de 90% das salas de cinema americanas foram preparadas para exibirem em CinemaScope, tendo-se o sistema implantado em todo o mundo em mais de 50% das salas, cobrando a Fox entre 10.000 e 25.000U$D pelo respectivo licenciamento, função das dimensões das salas, contemplando este um pacote no qual se incluía objectivas, som estereofónico, o ecrã e a respectiva instalação.
A introdução de quatro pistas magnéticas na película para o registo do sinal de áudio estereofónico (3) e um canal surround, assim como mais tarde o registo óptico, teve como consequência a redução de espaço destinado à imagem, o que implicou alterações no formato de imagem, o qual passou a ser 2.55:1, tendo este sido sucessivamente reduzido até ao valor final de 2,35:1.
Entretanto, graças ao desenvolvimento tecnológico verificado, em especial com o aparecimento no mercado do sistema Panavision, desenvolvido pela Paramount, entre outros, o CinemaScope foi descontinuado em 1967, apesar de ainda nos dias que correm se designar em gíria “Scope” a qualquer dos modernos sistemas widescreen, em formato 2.35:1, 2.39:1, 2.40:1 ou outro qualquer que apresente grandes dimensões na componente horizontal.