2015-03-25
Texto: Carlos A Henriques
Em finais dos anos 50 com o arranque das emissões regulares de Televisão em Portugal, ou seja, quando a RTP iniciou a sua actividade normal a 7 de Março de 1957, eu e os miúdos da minha “rua” (quinta), passamos, então, a dispor de um meio mais fácil de acesso ao que lá por fora se fazia no campo da animação.
Naqueles tempos por questões de vária ordem como, por exemplo, o custo elevadíssimo dos televisores ou a inexistência doméstica de energia eléctrica, deram às Sociedades Recreativas existentes, a nível de cada bairro ou pequeno agregado populacional, uma importância vital, dado serem elas as grandes divulgadoras da novidade tecnológica traduzida num aparelho que trabalhava a válvulas e reproduzia a preto-e-branco as tão esperadas e fantásticas imagens, só possíveis visionar até à data, ao quase inacessível Cinema, dado o acto social que representava tanto no custo dos ingressos como no necessário guarda-roupa a ser usado.
Lembro-me das tardes de domingo nas quais a programação era dirigida, fundamentalmente, à pequenada, em que os desenhos animados ocupavam uma boa parte desse período de emissão, onde não podia faltar, entre outros, o “Rato Mickey”, o “Pato Donald”, as tropelias de “Tom & Jerry”, ou o “Beep Beep (Road Runner)”, o “Bugs Bunny” e muitos outros cuja memória, ao correr da “pena”, não nos dá, de imediato, a ajuda necessária.
Mickey Mouse
A figura marcante do Rato Mickey é considerada a personagem mais antiga no mundo da animação, a qual, por estranho que possa parecer, faz o deleite dos netos dos meus amigos, assim como dos meus, apesar de já terem passado 87 anos desde a sua primeira aparição no “Steamboat Willie”, em 1928, graças ao génio do seu criador, que o mesmo é dizer, do seu “pai”, o americano Walt Disney.
Conta na sua galeria de sucessos com vários títulos, contudo “Fantasia”, realizado em 1940, é o de maior expoente, dada a conjugação perfeita entre a magia da animação, a beleza das cores e a aglutinação conferida pela música reproduzida dos instrumentos da Philadelphia Orchestra.
Popeye
O marinheiro que recorre a espinafres enlatados para dar aos seus músculos a necessária potência para salvar a sua heroína, a donzela “Olívia Palito”, do brutamontes “Brutos”, viu a sua estreia no ecrã através da interpretação de um personagem secundário num filme de animação da Betty Boop em 1933, sendo a personagem levada a primeira figura no filme “Popeye The Sailor” realizado no mesmo ano.
O seu exemplo, o de ingerir espinafres sempre que precisa de força, foi indicado por gerações de pais sempre que pretendiam persuadir os seus filhos a consumirem vegetais na sua alimentação.
Uma das suas frases preferidas é: "I‘m Popeye, the sailorman!"
Pato Donald
A criação do Rato Mickey implicou, com o passar dos tempos, o aparecimento de outros personagens, criando uma galeria de figuras que só por si representa um mundo à parte quando se fala de animação, cuja presença diária nos ecrãs dos televisores cria nas gerações actuais um excelente público alvo para a passagem de mensagens que vão para além do mero divertimento, pois em cada história há sempre algo que vai contribuir para o desenvolvimento de cada um como, por exemplo, o reconhecimento de letras e algarismos ou a busca de objectos para uma determinada função.
O aparecimento em 1934 do “Pato Donald” fica, então, a deve-se a Walt Disney, traduzindo este nas suas acções a grande amizade que tem pelo amigo Mickey no filme “The Little Wise Hen”.
É estranho que um personagem que fala com uma voz esquisita, da qual poucas palavras são perceptíveis, sendo uma cuspideira constante, assim como dispensa o uso de calças, tenha agarrado do modo que o fez todo um público sem idade.
Tom & Jerry
Duas figuras hilariantes do corre e apanha, criadas em 1940 pela dupla de cartoonistas Hanna-Barbera (William Hanna e Joseph Barbera), as quais fizeram as delícias de muitas gerações, em que a inteligência de um minúsculo rato consegue fazer frente à brutalidade de um esfomeado gato.
As tropelias são constantes, conduzindo na maioria das situações a desfechos que à priori davam a Jerry a grande vantagem no sucesso pretendido, porém com o desmontar, caso a caso, por parte de Tom, as intenções do parceiro nas aventuras são sistematicamente desmontadas.
Piu Piu ou Tweety
O pequeno passarinho passa a sua vida a fugir, com sucesso, das garras do “malvado” gato Silvestre.
A sua criação, em 1940, fica a dever-se à arte e engenho de Bob Clampett, o qual trabalhava para a Warner Bro. nas séries “Looney Tunes” e “Merrie Melodies”.
Road Runner (Beep Beep)
A figura da ave mais rápida que a animação jamais produziu é uma criação dos estúdios da Warner Bros., em 1950, e reflecte em cada história as tropelias de um malvado coiote que recorre a todo o tipo de “engenhocas” para caçar o nosso herói, o qual, graças à superior inteligência que dispõe, não só resolve pontualmente os seus problemas resultantes das armadilhas mirabolantes do opositor, como faz com que este caia nas mesmas.
O “Beep Beep”, como também é conhecido, estende a sua amizade e partilha de intenções a uma comunidade que abrange todas as idades, desde netos a avós.
Bugs Bunny
“What’s Up Doc”, a frase preferida de um coelho nascido em 1957 em Hollywood, mais propriamente nos estúdios da Warner Bros, sendo a mesma ainda hoje usada por muitos que viveram a sua infância e juventude com o Bugs Bunny.
A sua primeira aparição deu-se no filme Wild Hair, contudo foi a sua apresentação televisiva numa longa série de histórias, a “Looney Tunes”, que o coelho mais inteligente do mundo marcou para sempre a nossa idade infanto/juvenil.
Flinstones
A família Flintstone, proveniente da idade da pedra mas com conceitos de vida da era actual, desde os gostos, conversas e utensílios domésticos construídos com materiais do passado, é uma criação da dupla Hanna-Barbera no ano de 1960.
As histórias são hilariantes, destacando-se a acção de Fred Flinstone e a sua perdição pelo jogo do “bowling” e o seu grito de “guerra” que perdura, apesar da passagem do tempo, ou seja, o célebre “Yabba-Dabba-Doo”.
Calimero
A figura de Calimero (Karimero no original) corresponde à de um pintainho que, segundo a sua própria ideia, nasceu para ser infeliz pois ninguém o compreende, apesar de ter sempre razão em tudo o que pensa e faz. Meigo mas desprezado pela sua família de galináceos de cor amarela, dado este ser preto, transporta na cabeça metade da casca do ovo de onde nasceu. Criado em 1963 pelos italianos Nino Pagot e Toni Pagot, com a voz emprestada pelo actor Ignazio Colnaghi com destino a um programa de Televisão, o “Carosello”, cujo sucesso o catapultou para um anúncio publicitário, também para Televisão, o que fez com que cedo rumasse ao Japão para atingir o auge da sua prestação.
Scooby Doo
A dupla Hanna-Barbera com a sua grande capacidade de criação de figuras de animação que ficaram para a história da actividade cinematográfica de Hollywood, conceberam a personagem Scooby Doo, um cão cujo medo por tudo e por nada acaba por o ajudar a descobrir os mais mirabolantes mistérios que envolvem espíritos e fantasmas.
A primeira aparição de Scooby Doo deu-se em 1969 no filme de fundo chamado “Os Grandes Mistérios de Scooby Doo”.