Texto: Carlos A Henriques
Nota de Apresentação
A preservação do equipamento que durante o tempo de vida útil deu o seu melhor à Rádio e Televisão Pública em Portugal, ao longo de mais de oito décadas, é por um determinado ponto de vista uma obrigação das entidades envolvidas, mas, também, um acto de amor e respeito pelas gerações de profissionais que na maioria dos casos, em condições deveras difíceis, cumpriram a missão que lhes foi confiada, ou seja, a de prestarem um serviço de qualidade apesar das condições técnicas não serem, em determinadas situações, as mais adequadas.
O Nascimento de Um Museu.............Duplo
Com a criação da Rádio e Televisão de Portugal e a sua instalação na Av. Marechal Gomes da Costa, em Lisboa, ficaram reunidas as condições de num único local visitável ser possível reunir as peças museológicas do já existente à data do Museu da Rádio, a que se juntou o equipamento que ao longo de mais de cinco décadas registaram a história do País no que diz respeito à Televisão.
Dando bom uso ao actual estádio que a tecnologia atingiu, foi também disponibilizado um Museu Virtual, disponível na Internet, permitindo este uma visita ao alcance de qualquer um através da teclagem de um endereço.
O Museu RTP está dividido, fundamentalmente, em duas zonas, correspondendo cada uma à sua área especifica, ou seja, Rádio e Televisão.
Zona de Rádio
De acordo com o desdobrável a que cada visitante tem direito no início da visita, a história que aqui se conta é suportada por uma centena de objectos museológicos, distribuídos por duas zonas expositivas e por um estúdio de Rádio dos anos 50/60 recriado para o efeito.
Numa primeira parte são expostas algumas das peças mais antigas do espólio museológico, que permitem dar a conhecer a evolução dos meios de comunicação à distância e dos mecanismos de transmissão e reprodução do som.
São também mostrados equipamentos que pertenceram às estações de Rádio pioneiras em Portugal.
A Era da Rádio começou em Portugal em 1914 com a criação da Rádio Hertz, cuja fundação se ficou a dever ao estudante universitário Fernando Gardelho Medeiros, cujas instalações encontraram na Rua do Cardal, à Graça, nº5, o local escolhido para emitir com o indicativo CS1 AA, tanto em Onda Média como em Onda Curta.
Em 1933 dá-se início às emissões experimentais, em Onda Média (OM) da Emissora Nacional de Radiodifusão, conhecida pela sigla EN até 1974, dando-se o arranque das emissões regulares e o nascimento oficial da estação pública de Rádio a 4 de Agosto de 1935, e a sua instalação na mística Rua do Quelhas, em Lisboa.
Até à Revolução de Abril (1974) foi a Estação de Rádio ao serviço do regime, contudo alguns dos seus programas ficaram definitivamente a fazer parte da nossa história, sendo parte activa na mesma como, por exemplo, o assalto ao Stª Maria por Henrique Galvão (1961), a guerra em África, as visitas dos principais governantes ao Brasil, África, território Continental e Ilhas, enviando para o efeito repórteres na maioria dos casos, fieis ao sistema politico vigente.
A sua participação na vida cultural do País foi determinante graças à sua intervenção directa na promoção ou cobertura de concertos, programas de índole educativa, assim como teatro radiofónico, este último muito em voga nas primeiras 3 décadas que antecederam o aparecimento da Televisão.
O destaque vai também para a constituição da Orquestra Sinfónica, Típica e Ligeira, assim como para a criação inovadora do Centro de Formação de Artistas de Rádio, autêntico alfobre de vedetas que inundaram os palcos e os receptores de Rádio, então em número reduzido, daí a escuta colectiva, em especial as rádio-novelas e espectáculos de grande apreço do público ouvinte como o Serão Para Trabalhadores.
Como resultado da Revolução dos Cravos, a qual deu origem à nacionalização de todas as Rádios privadas, excepção para a Emissora Católica, a empresa tomou a designação de RadioDifusão Portuguesa (RDP), tendo-se fundido, em 2004, com a RadioTelevisão Portuguesa (RTP) resultando numa única entidade com a designação Rádio e Televisão de Portugal.
A Zona da Rádio é a reposição do “velho” Museu da Rádio existente no Quelhas, onde se podem visitar as “provetas” memórias do passado longínquo de uma elevada quantidade de equipamento desde microfones, gravadores (magnéticos e de fio de aço), gira-discos, receptores de Rádio de todos os tipos e gerações, assim como um estúdio de Rádio completo onde nem o ding-dong, tocado à hora dos noticiários, era tocado pelo locutor de serviço, foi esquecido.
A Zona Televisão
No mesmo espaço museológico há a chamada Zona da Televisão, dedicando-se esta, como se torna evidente, à apresentação do acervo entretanto colectado desde as emissões experimentais na Feira Popular de Lisboa, em 1956, até aos dias de hoje.
A RTP, nascida no âmbito de actividade da então Emissora Nacional graças à criação, em 1953, do Grupo de Estudos de Televisão, cujo objectivo foi o de aproveitar o know how dos técnicos e engenharia da casa para um estudo técnico e económico para a instalação em Portugal de um serviço regular de Televisão.
As primeiras emissões experimentais, em circuito fechado, iniciaram-se no Porto, mais concretamente no Pavilhão das Indústrias Portuenses, por ocasião da Feira Popular, a 18 de Julho de 1955.
O contrato de concessão do Serviço Público de Televisão é assinado em Janeiro de 1956, pelo que veio a ser o Primeiro Presidente da RTP, Dr. Camilo Mendonça e do lado do Estado pelo Prof. Marcelo Caetano.
O passo seguinte foi a instalação provisória no espaço da Feira Popular de Lisboa, no local onde existe hoje a Fundação Gulbenkian, em Palhavã, a 4 de Setembro de 1936, dando-se aí o arranque das emissões experimentais radioeléctricas.
As emissões regulares tiveram o seu arranque a 7 de Março de 1957, sendo a idade da RTP contada a partir desta data.
Na Zona de Televisão, dentro de múltiplas vitrinas, lá estão aquelas peças milagrosas que permitiram em condições adversas fazer durante décadas o entretenimento a baixo custo dos portugueses, embora com uma componente de adormecimento politico submetido ao regime vigente.
A organização cronológica dos equipamentos que captaram, registaram, pós-produziram e emitiram ao longo de 56 anos as imagens e os sons com origem em Portugal e no estrangeiro, permite ao público em geral e aos estudantes do fenómeno televisivo em particular, uma percepção muito real da evolução dos acontecimentos ao longo do tempo.
Aos visitantes é também oferecida a possibilidade de num estúdio virtual, com fundo verde, fazerem de apresentadores, locutores ou do que queiram fazer, experiência documentada num DVD que é graciosamente oferecida no final da visita.
Há, ainda, um espaço museológico, na cave das instalações do Museu, cuja visita não está acessível ao público dada a sua característica de reserva especial e de interesse restrito a profissionais, estudantes ou a Alunos de Mestrado ou Doutoramento.
Numa garagem, construída para o efeito, pode-se visitar aquele que foi o primeiro carro de exteriores da RTP, motivo de uma peça especial que pode encontrar neste site, o qual foi montado em 1957 pela empresa alemã Fernseh, e entrado ao servi da empresa a 19 de Fevereiro de 1958, sendo hoje o 3º carro de exteriores ainda operacional mais antigo do Mundo, razão pela qual, após um profundo processo de recuperação, mecânica e electrónica, esteve exposto em Amesterdão durante a ocorrência da IBC 2013.
Recomendação
Dada a alta qualidade dos materiais expostos o Museu RTP é considerado como um dos melhores Museus do género em termos mundiais, razão pela qual o recomendamos, veementemente, a profissionais de Rádio, Televisão, Vídeo, Áudio e do Audiovisual, assim como a alunos e professores e ao público em geral que nutra por este tipo de manifestações técnico/culturais/históricas.