De nome completo Nuno Fradique de Veiga Santos, natural de Lisboa, cujo nascimento se deu a 12 de Março de 1929, foi herdar de seu pai, Feliciano Santos, o gosto pelas artes de representação como a música, com especial destaque para o teatro, havendo da herança um lote bem recheado pelo gosto da leitura e escrita.
Em termos de nota de rodapé, o pai de Nuno Fradique foi também Jornalista, autor de peças de teatro, assim como Director da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses.
Nuno Fradique, Cecília Neto e Fernando Patrício
Aos 18 anos de idade concorreu a locutor da Emissora Nacional, da qual descende a actual RDP, mantendo-se nessa função até à data em que através dessa mesma Emissora Nacional nasce a RTP (RadioTelevisão Portuguesa, SARL) e as emissões experimentais na antiga feira popular nos terrenos agora ocupados pela Fundação Calouste Gulbenkian.
Aos 22 anos licenciou-se em Economia e Finanças pelo ISEF (Instituto Superior de Económicas e Financeiras), tendo, entretanto mantido uma intensa actividade criativa tanto na Rádio como em actividades conexas como a escrita, o teatro e a música.
As emissões experimentais da RTP deram lugar às emissões regulares, passando os estúdios para o espaço até então utilizado pela Lisboa Filme, mais conhecida por Estúdios do Lumiar ou Estúdios da Alameda, dada a proximidade e ligação administrativa com a freguesia do Lumiar, no primeiro caso, ou, à Alameda das Linhas de Torres na segunda.
Tendo a empresa optado por enviar a estações de Televisão de referência da época como, BBC (Inglaterra), ORTF (França) e RAI (Itália) os seus melhores colaboradores nas várias áreas, com destaque para o campo da Produção, Realização, Cenografia, Maquilhagem e Caracterização e outras, onde realizaram estágios de adaptação ao meio televisivo, dado a proveniência dos mesmos ser de meios diversos, com excepção da Televisão uma vez inexistente à data.
Dentro desta linha estratégica da empresa, ou seja, na aposta no campo da formação adequada, Nuno Fradique frequentou um curso de Realização na BBC, o que implicou, no final do mesmo, a sua admissão na RTP nessa mesma qualidade.
Tal como nas suas outras actividades, Nuno Fradique, dedicou-se com alma e coração à “sua” Televisão, tanto como Realizador, Entrevistador ou Apresentador de programas, demonstrando, uma vez mais, a sua versatilidade e disponibilidade para tudo o que implicava comunicação, informação e entretenimento.
Foi considerado, na sua época, na qualidade de Realizador, como um dos mais categorizados, devendo-se tal referência à tradução, adaptação, encenação, e realização de várias peças de teatro, destacando-se, para o efeito:
Apesar da sua devoção ao teatro, tanto ao representado em palco assim como ao televisivo, o seu gosto pela escrita, para a qual criou um estilo pessoal, foi outra das facetas que abraçou, tendo assinado a autoria de algumas das peças que dirigiu, para além da sua veia poética a qual o levou a concorrer ao primeiro Festival RTP da Canção em 1964.
A canção, a 12ª na ordem de apresentação, chama-se “Balada das Palavras Perdidas”, ficou em 5º lugar com 30 pontos, tendo sido interpretada por Madalena Iglésias, sendo a música da autoria de António Alves De Almeida Garret e a direcção de orquestra do maestro Tavares Belo.
Balada das Palavras Perdidas
Em menina ia à escola p‘ra aprender
A escrever, a contar, a viver
E as palavras, eram mundos encantados
Só lá ia quem sabia tirar os significados
Pouco a pouco
Fui largando o dicionário
À medida que da vida
Fiz meu caderno diário
E as palavras esses mundos
Que em criança entrevi
Letra a letra, uma a uma,
Mágoa a mágoa eu perdi
No teu amor há letras de falsidade
Leio a mentira onde escreveste a verdade
Letras mortas, são a esperança e ilusão
Letra morta é vida e também o perdão
São iguais nossas almas tão sós
Tão sem norte que uma vida é vida demais
P‘ra nós se é destino caminharmos
Tuas mãos em minhas mãos
Caminhemos lado a lado
Não amantes mas irmãos
São iguais nossas almas tão sós
Tão sem norte que uma vida é vida demais
P‘ra nós se é destino caminharmos
Tuas mãos em minhas mãos
Caminhemos lado a lado
Não amantes mas irmãos
Em Agosto de 1964 é acometido de doença da qual veio a falecer a 10 de Dezembro do mesmo ano, representando o seu desaparecimento uma grande perda para o mundo intelectual e das artes, com especial ênfase para o televisivo, tendo sido da nossa parte um privilégio o facto de termos tido a oportunidade de comungar com Nuno Fradique alguns momentos históricos da Televisão em Portugal.
A RTP, como reconhecimento do seu valor e agradecimento aos serviços prestados, atribuiu ao auditório da antiga sede da Av. 5 de Outubro, em Lisboa, a designação de Auditório Nuno Fradique. Com a mudança para as instalações actuais na Av. Marechal Gomes da Costa perdeu-se, definitivamente, qualquer referência a este pioneiro da Televisão no nosso País.
N.A.: Elementos biográficos obtidos de uma nota à Imprensa, da autoria de Vasco Hogan Teves, por parte do Gabinete de Relações Exteriores da RTP, na inauguração do Auditório Nuno Fradique, do site RTP e ainda com recurso à nossa memória do Autor.