A Engenharia de Reabilitação na 1ª Pessoa
Texto: Carlos A Henriques
Nota de Abertura
Conheci o Eng. Jaime Filipe em 1963 na RTP.
Em 1976, após conclusão do meu Curso de Engenharia Electromecânica fui escolhido em concurso público para chefiar o Serviço de Formação Técnica do Departamento de Formação da RTP, então instalado na Rua Francisco Baía, em Benfica, onde o Eng. Jaime Filipe exercia as funções de Chefe de Serviço de Formação Operacional.
A nossa amizade foi e é, apesar da sua morte física, muito profunda, pois acompanhei a partir de 1976 até ao dia do em que foi acometido por um AVC (5 de Junho de 1986) que o levaria à morte (9 de Agosto de 1992) toda a sua frenética actividade, desde a invenção do elevador de escadas, do OPTACON, sistema de "visão" de textos para invisuais recorrendo à sensibilidade do dedo indicador esquerdo, da bola de vento para microfones e dezenas de outras ideias, algumas levadas à prática e outras que não passaram das nossas conversas num restaurante macrobiótico da Alexandre Herculano, num 4º andar, em Lisboa, as quais aconteceram muitas vezes, sempre às quintas-feiras.
Uma dessas ideias tinha a ver com a criação de um sistema relógio padrão com um erro muito inferior ao do Big Ben, cujo circuito electrónico foi por mim concebido. Por questões de ordem financeira este projecto nunca saiu do laboratório.
O dia-a-dia do Eng. Jaime Filipe era vivido, maioritariamente, no universo da Engenharia de Reabilitação, sendo o mesmo considerado a nível mundial como um dos principais mentores, aliado ao facto de ter sido um dos pioneiros nesta matéria.
Origens
Nascido a 31 de Maio de 1923, em Lisboa, recebeu no registo de baptismo o nome completo de Jaime Octávio de Magalhães Filipe.
Filho de Domingos Alberto Filipe (Engenheiro) e Idalina do Carmo Pereira de Magalhães Filipe, teve três irmãos, Edmundo Kelvin de Magalhães Filipe (1909), Maria Manuela de Magalhães Filipe (1912) e Domingos Magalhães Filipe (1919, tendo sido Governador de Diu, em 1956).
Casou, em 1953, com Carolina Vitaliana Duarte Lopes (falecida em Fevereiro de 2009), sendo esta conhecida do grande público pelo nome artístico Lina Maria (cançonetista), da qual não teve filhos.
Como familiares mais próximos ainda vivos há a considerar a sua sobrinha Maria Amélia Filipe (filha do irmão Edmundo), Manuela Maggioni (filha do irmão Domingos) e a sobrinha-neta Milva Maggioni (neta do irmão Domingos).
A Emissora Nacional
A sua actividade profissional foi iniciada, com apenas dezassete anos, em 1940, na então Emissora Nacional, actual RDP, na qualidade de Desenhador Técnico, ou seja, elaborava as plantas das instalações assim como os circuitos eléctricos resultantes do estudo da equipa de projectos existente na estação pública de Rádio. O seu gosto pela “coisa” técnica conduziu-o, indubitavelmente, ao fim de cinco anos entre desenhos, para o centro das actividades levadas a efeito pela Emissora, tornando-se num dos mais promissores Operadores de Captação de Som, lugar que ocupou ao longo de doze anos, ou seja, até à sua entrada para os quadros da RTP.
A RTP
O arranque das emissões experimentais das emissões da RTP levadas a cabo em 1956, na então Feira Popular de Lisboa, em Palhavã, no local onde está agora instalada a Gulbenkian, mais concretamente o Museu de Arte Moderna, deram origem à necessidade de novas instalações para que se dessem início às emissões regulares. Tal veio a acontecer em 1957, precisamente no dia 7 de Março, nas actuais históricas ruínas dos Estúdios do Lumiar, na Alameda 44, em Lisboa.
O Eng. Jaime Filipe fez parte desse lote de pioneiros que naquele espaço concretizaram a magia presente nos sonhos de muitos portugueses, então ávidos pelo acesso a este meio de comunicação de massas já desfrutado na grande maioria dos países desenvolvidos.
Ao longo dos 29 anos de acção activa na empresa desempenhou várias funções, das quais destacamos a de Operador Chefe de Captação de Som (Setembro de 1957 a Julho 1966), Chefe de Serviço de Exploração (Julho de 1966 a Setembro de 1974), ou seja, foi o responsável por toda a estrutura operacional (áudio e vídeo) dos estúdios do Lumiar, Chefe de Serviço de Formação Operacional do Centro de Formação (1974 a 1978), Director do Centro de Formação (1978 a 1979), Chefe do Gabinete de Apoio aos Centros Regionais da Madeira e dos Açores (1979 a 1985) e Director do Centro de Formação (1985 a 1986/7).
Numa tentativa constante de melhorar os seus conhecimentos técnicos várias foram as visitas e os Cursos frequentados no estrangeiro, a expensas próprias, salvo raras excepções, nomeadamente à RAI (Itália), SVT (Suécia), DR (Dinamarca), NOS (Holanda), ZDF (Alemanha), ORTF (França), BBC (Reino Unido), RTVE (Espanha), Bavária Films (Alemanha), NBC (EUA), assim como a Philips (Holanda).
No que respeita à Formação Profissional, graças à sua iniciativa, mesmo antes da existência do Centro de Formação, a qual teve lugar em 1969, a RTP proporcionou o 1º Curso de Assistentes de Exploração (Chefias), tendo esta Acção de Formação concretizada em 1959.
Programa Novos Horizontes
Sendo um Homem de Televisão não descansou enquanto não viu realizado um projecto com alguns anos, mas cuja oportunidade só em 1978 viu luz verde.
Nascia, assim, o primeiro programa mundial inteiramente dedicado à Engenharia de Reabilitação e aos problemas dos deficientes em Portugal e no Mundo, ou seja, o “Novos Horizontes”, o qual era produzido, realizado e na maioria dos casos apresentados por ele próprio.
Mesmo após o acidente cardiovascular cerebral a que foi acometido em 1986, a continuidade das emissões quinzenais foi garantida graças à acção de Joaquim Miranda, Realizador da RTP, numa primeira fase em produção própria da RTP e mais tarde numa produtora externa gerida pelo citado Realizador.
Posteriormente o programa passou a ser produzido e realizado pela empresa Artémis, tendo as emissões passado para a RTP 2, passando a periodicidade a ser semanal, tendo-se mantido no “ar” até 2003.
A ironia do destino tem destas coisas, ou seja, um Homem que dedicou a sua vida à causa dos deficientes passou 6 anos numa cama (1986 a 1992) tetraplégico, movendo descontroladamente a boca, mas de um modo seguro os olhos com os quais comunicava com o exterior, graças a um sistema por si inventado.
A Escrita
Entre as várias actividades havia uma, à qual dedicou algum tempo, quanto a nós pouco, à escrita, debruçando-se esta sobre temas técnicos, tendo escrito o primeiro livro editado na RTP, concretamente “Técnica de Captação de Som”, a sua especialidade, sendo a Casa do Pessoal da RTP a responsável pela sua edição, dado que à data, 1959, se estava ainda a 10 anos da criação do Centro de Formação da RTP.
Sendo um homem do grande espectáculo, a iluminação foi outra área onde os seus dotes se fizeram notar, tendo sido o autor de um livro sobre a matéria, no qual constava a matéria da disciplina por si ministrada, a “Técnica de Iluminação”.
Em 1980 foi editado um livro de sua autoria, desta vez com a responsabilidade do Centro de Formação, o qual foi o resultado de uma série de Cursos Técnicos, de sua autoria e responsabilidade, para o pessoal da RTP da área administrativa, intitulado “Iniciação à Televisão”.
A sua preocupação constante com o modo como o público telespectador deveria ver e apreciar os programas apresentados pela Televisão, levou-o a aceitar um convite de um Jornal da época, o “Comércio do Porto”, onde, semanalmente manteve durante um alargado espaço temporal uma secção apelidada de “Como Ver Televisão”.
Por ser considerado por nós um marco importante na história da Televisão assim como uma manifestação de portuguesismo puro na defesa dos valores de Portugal, dentro e fora de fronteiras, transcrevemos na íntegra uma dessas crónicas na qual faz um apelo ao seu Amigo Adriano Nazareth (Pai), Realizador consagrado do Centro de Produção do Porto da RTP, para se deslocar a Marco de Canaveses, à terra onde nasceu a estrela mundial Carmen Miranda, e ali fazer um documentário sobre a vida de tão importante figura.
Esta crónica foi extraída do livro “Adriano Nazareth, 30 Anos de Televisão”, uma autobiografia do Autor:
“COMO VER TELEVISÃO
O COMÉRCIO DO PORTO, 28-6-1982
CARMEN MIRANDA, Por Jaime Filipe
Para o grande público e em qualquer pais, Maria Callas era grega, Carmen Miranda, brasileira. Embora ambas já falecidas, estão ainda na memória de todos nós, tal a craveira artística, cada uma no seu género, que atingiram.
Maria Callas era, no entanto, norte-americana, embora de origem grega e Carmen Miranda, portuguesa de gema, nascida e criada em Marco de Canaveses, essa bela terra minhota, de onde emigrou para o Brasil com os pais quando adolescente.
Nós, portugueses, temos um pouco a tendência a esquecer os nossos maiores valores, e no que toca a Carmen Miranda, julgo haver uma grande dívida a reparar, pois o esquecimento tem sido quase total! Essa talentosa mulher foi a maior artista de sempre em terras do Brasil e no seu tempo a mais famosa estrela do music-hall de Hollywood.
Os brasileiros chamam-lhe sua. Como os italianos dizem que Santo António era de Pádua. Mas nós portugueses temos que dizer que ela nasceu, viveu e morreu portuguesa, como declarou Helena Matos, sua amiga, quando entrevistada por Henrique Mendes, no programa TV Show.
Estamos em dívida com esta nossa compatriota, nortenha, pois não creio haver uma rua, um jardim, um museu que evoque o seu grande nome. Ela não é lembrada, nem sequer apresentada aos jovens, que nunca viram os seus inesquecíveis filmes, como “Voando Para o Rio de Janeiro”, ou “A Caminho da América do Sul”, entre tantos outros. Também estes não puderam ver as produções de Walt Disney ou quantos desenhos animados americanos evocaram a sua figura e o seu estilo.
Carmen Miranda, portuguesa de Marco de Canaveses, anda no esquecimento de todos nós! Somos assim, damos pouco valor ao que é nosso, e muitas vezes são os outros que nos descobrem os nossos valores e os colocam no lugar a que têm direito.
Talvez um dia alguém faça um filme chamado “Artistas Portugueses em Hollywood”, e nessa altura alem da citada, poderiam aparecer nomes como Claire Trevor, detentora de vários Óscares, de nome português Clara Tavares, Max Baxter, Woward da Silva, Barbara Stanwick, ou outros com sangue português como Olívia de Havilland, Joan Fontaine, Harold Perry, Lou Costelo (do célebre duo Abot e Costello) além de Clark Gable, e muitos outros menos conhecidos do público português da minha geração e completamente ignorados das novas gerações.
O Centro de Produção do Porto RTP tem excelentes profissionais, entre eles Adriano Nazareth. Telefonei ao Adriano, para lhe pedir um favor muito especial. Adriano pega na câmara e vai a Marco de Canaveses; mostra a casa onde nasceu esse monstro sagrado do espectáculo musical, fala com familiares e amigos. Diz porque seu pai, ao que julgo alfaiate, emigrou para o Brasil. Mostra o que foi a sua carreira artística nos Estados Unidos através dos seus filmes, cria um ciclo de cinema Carmen Miranda a apresentar na RTP!...Se fizeres isto, pode ser que alguém se lembre de dar a uma rua, jardim, ou casa de espectáculos o nome dessa artista ímpar tão portuguesa como tu, ou como eu.
Ao telefonar para o Centro de Produção do Porto da RTP, para te pedir que abraçasses esta tarefa justa e patriótica, tive a triste notícia de que tens estado doente e que fizeste operações! Lamento muito e desejo-te rápido regresso ao trabalho pois a RTP bem precisa do teu talento.
Boas melhoras caro amigo Adriano”
Apesar do esforço de Adriano Nazareth para a concretização do desejo de Jaime Filipe, nomeadamente a encomenda de um guião a um especialista da área e à rodagem de alguns metros de filme no dia da inauguração, em 1988, do museu Carmen Miranda, na terra que a viu nascer, o filme não passou disso, ou seja, de um desejo e de um projecto em forma de guião.
A API (Associação Portuguesa de Inventores)
Em Junho de 1970 aderiu na qualidade de sócio fundador à API, tendo esta organização mudado de sigla em 1973 para APII, devendo-se tal facto ao acréscimo da palavra Inovação à designação anterior, assim como passou a ser uma Associação de Objectivos e não mais pertença à classe de Inventores, passando esta a ser, a partir de então, referida como Associação Portuguesa de Invenção e Inovação (APII).
Em 1974 o Eng. Jaime Filipe é eleito Vice-Presidente da Mesa da Assembleia da APII, no âmbito da qual criou, em 1974, o CIDEF (Centro de Inovação para DEficientes Físicos), cuja componente marcante foi a sua vocação para a área da Engenharia de Reabilitação, assim como à Transferência de Saber, com o objectivo de:
Foi no CIDEF que a sua energia para a invenção de equipamentos para a pessoa deficiente alcançou notoriedade em termos internacionais, pois passou a ser presença regular nos grandes eventos europeus da especialidade como o Salão Internacional de Invenções de Genebra (Suíça) e no Salão Mundial de Invenções de Bruxelas (Bélgica).
Em 1976 a APII passou a designar-se por Associação Portuguesa de Criatividade (APC), tendo o Eng. Jaime Filipe assumido as funções de Presidente em 1983.
No ano da sua morte, em 1992, o CIDEF através de um acordo de cooperação estabelecido entre a APC e o IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional), passou a designar-se por Centro de Reabilitação Profissional (CRP), contudo, sem abandonar os propósitos da sua criação, ou seja, no campo da Engenharia de Reabilitação.
Na edição Nº 29 (Janeiro/Março de 1980) da Revista Inventiva, podia ler-se:
“Criação do CIDEF (Centro de Inovação para Deficientes Físicos)
Por proposta do inventor Jaime Filipe que para o desenvolvimento de cujo invento o Ministro Veiga Simão havia concedido no ano anterior um subsídio de mil contos, reuniu-se na sede de Lisboa no dia 25 de Junho de 74 um grupo que, depois de escutar o projecto daquele inventor decidiu fundar o Centro de Inovação para Deficientes Físicos que seria integrado na APII.
Como criador do CIDEF estiveram Jaime Filipe, Alves dos Santos, Duarte Fonseca, Fernanda Bívar Weinholtz, J. M. Rangel de Lima, Deonilde M. Morais e Hermano Carmo.
Assim nasceu o CIDEF que não viria tirar proveito dos mil contos que seriam desviados em favor do Instituto Gama Pinto, mas que havia de crescer e projectar-se numa acção futura digna da envergadura criativa do seu papel criador e director desde o primeiro dia e que hoje é bem conhecido através dos programas da TV Novos Horizontes”.
A Engenharia de Reabilitação
Estamos em meados dos anos 70, do século passado, e era assim que o Eng. Jaime Filipe descrevia aquilo que ele entendia como sendo a Engenharia virada para o desenvolvimento tecnológico de equipamentos para a pessoa deficiente:
“O conceito de Engenharia de Reabilitação é muito recente, digamos que tem pouco mais de uma década. Teve origem nos Estados Unidos da América e está sendo adoptado por muitos países.
Na Europa há um grande progresso nesta matéria, mas em alguns países a designação Engeneering Rehabilitation está a ser substituída pelo termo Technical Aids, ou seja, Ajudas Técnicas.
Julgo que a designação norte-americana será adoptada por todos os países num futuro, porquanto vários países europeus começam a usa-la, como é o caso da Espanha, Portugal e Jugoslávia, pais onde este novo ramo da Engenharia está em crescente desenvolvimento.
O Relatório Anual do Reabilitation Engeneering Center da Universidade de Jubliana, utiliza o símbolo já internacionalizado que iremos também adoptar em Portugal. O mesmo vai sucedendo um pouco por toda a parte desde o Canadá ao Japão. Isto porque se trata de facto de uma nova Engenharia, com cursos organizados em muitas Universidades, com formatura na especialidade, tal como vem sucedendo nos países mais evoluídos com a Engenharia Hospitalar.
O progresso realizado nos últimos anos deve-se em grande parte ao extraordinário avanço tecnológico na área da Electrónica. Ela está na base de um sem número de aparelhos que vêm minorar o sofrimento e tornar o deficiente mais operacional para o desempenho de postos de trabalho em qualquer emprego e com plena eficiência em grande número de casos.
É um maravilhoso desafio que se põe à capacidade criativa do Homem e à inteligência de todos numa sociedade consciente”.
As Invenções
O mundo do Eng. Jaime Filipe rodava em torno do que melhor a tecnologia podia oferecer aos deficientes ao logo das 24 horas que o dia continha.
Devido a uma grave doença na sua juventude, concretamente aos 12 anos de idade, foi aconselhado pelo médico que o assistia a tornar-se vegetariano, pois corria o grave risco de perder a visão. Seus Pais não se fizeram rogados, havendo da parte do Eng. Jaime Filipe um respeito total pela não ingestão de qualquer tipo de alimento de origem animal (carne e peixe). Com o avançar do tempo e a certeza de que o mal de origem estava controlado, a “ditadura” da faca e do garfo foi sendo aliviada, mantendo, contudo, perante a mesma algumas regras que o regeram ao longo da sua vida.
Esta, estamos certos, foi a grande razão da sua entrega total a uma causa que o conduziu à invenção dos mais sofisticados sistemas a serem usados pelos deficientes do foro visual, auditivo e outros.
Formado em Engenharia Electromecânica (1961) no antigo Instituto Industrial de Lisboa (IIL), actual Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL), os conhecimentos adquiridos foram quase sempre canalizados para a Engenharia de Reabilitação, apresentando-se, abaixo, apenas as invenções que foram materializadas e que tiveram sucesso em termos mundiais:
1. Electrovisor - Sistema de Visão Táctil para cegos (1959 - Patente n.º 36581 )
A ideia base reside no recurso a um par de óculos especiais, constituído por lentes fotoeléctricas, as quais geram electrões cuja quantidade a nível pontual é função da intensidade luminosa que incide sobre esse mesmo ponto.
Cada ponto que constitui cada uma das placas fotoeléctricas é ligado a duas placas de terminais, uma por cada olho, as quais são aplicadas nas costas do utilizador, apresentando-se em cada um dos terminais uma tensão eléctrica mais ou menos intensa de acordo com a maior ou menor intensidade luminosa pontual.
2. Electrovisor II (Medalha de Ouro, Bruxelas 1972)
3. Músculo Electromagnético
Baseado num motor linear, este músculo não é mais do que uma prótese com a capacidade de fornecer a cada dedo a força de dois quilos, sendo os movimentos dos dedos, tanto os lentos como os rápidos, muito parecidos com os das pessoas não deficientes.
O 5º Salão Internacional de Genebra concedeu-lhe, em 1976, a Medalha de Prata Dourada.
Sobre este invento seguem as palavras de quem o concebeu:
“O músculo electromagnético nasceu no dia em que encontrei um militar deficiente que tinha perdido as mãos e a vista. Observei de perto a prótese moderna de fabrico alemão que aquele jovem utilizava e criei o músculo electromagnético por motor linear, animado a energia eléctrica, em que são utilizados motores lineares em vez dos sistemas rotativos habitualmente utilizados, com a grande vantagem de permitir a variação de velocidade dos movimentos”.
4. Motor COMBI (1979, Medalha de Prata, no 8º Salão Internacional de Genebra)
Este motor não é mais do que um misto de um motor de combustão interna com o motor a vapor, sendo o princípio de funcionamento muito fácil de explicar, ou seja, os gases quentes à saída do motor de combustão interna são uma fonte de energia não aproveitada, a qual representa um elevado índice de perdas, pelo que o seu aproveitamento conduzem a uma melhoria de rendimento da energia em presença.
O motor COMBI foi concebido para ser usado em todo o tipo de motores de combustão interna, tais como os usados nos automóveis, camiões, locomotivas ou mesmo nos barcos de pequeno, médio e grande porte.
5. Elevador Eléctrico de Cadeira de Rodas (1983-patente nº 77080)
Inspirado num filme americano no qual um dos personagens sendo paraplégico via a sua mobilidade constantemente afectada perante as múltiplas barreiras arquitectónicas, não só ao nível dos locais para onde se deslocava (Repartições públicas, salas de cinema, lojas, etc.), mas também na sua própria casa, a qual era uma moradia com dois pisos, ou seja, rés-do-chão e primeiro andar, respectivamente.
Sendo um excelente Desenhador técnico, Engenheiro de formação e tendo uma vontade férrea de ajuda ao seu semelhante deficiente, a invenção do elevador para cadeira de rodas foi “de caras”, como por vezes afirmava.
Este invento, utilizado há bastante tempo em todo o Mundo, recebeu as Medalhas de Ouro dos Salões de Bruxelas (1983) e Genebra (1984).
6. Elevador Portátil Manual p/ Cadeira de Rodas (ECR III)
A necessidade da ajuda de um elevador para cadeira de rodas em locais sem acesso ao fornecimento de energia eléctrica como, p.ex., na rua ao pretender-se a entrada para uma viatura automóvel, levou este notável Inventor a pôr em prática outra ideia soberana, a qual foi contemplada com a Medalha de Prata no Salão de Genebra em 1985.
O sistema recorre a uma manivela que acciona engrenagens e correntes instaladas em duas barras elevadoras de perfil adequado. Uma plataforma para a cadeira de rodas é elevada pelo mecanismo utilizado.
Recebeu a Medalha de Prata Dourada no Salão Mundial de Invenções “Eureka 84 - Bruxelas” e a Medalha de Prata no 13º Salão Internacional de Invenções e Novas Técnicas de Genebra, em 1985.
7. BASIL (1985-Patente Nº 80295)
Inspirado na surdez profunda de uma tia, concebeu um aparelho parecido no aspecto com um relógio de pulso, o qual em vez de dar horas produzia vibrações sempre que um sinal sonoro se manifestava nas suas proximidades como, por exemplo, a campainha do telefone ou da porta, o choro de bebés, motores ou buzinadelas de automóveis, recorrendo a um microfone miniatura, a um pré-amplificador e a um amplificador logarítmico.
A prestação deste dispositivo levou os elementos do Júri, tanto no Salão de Genebra como no de Bruxelas, em 1985, a concederem-lhe a Medalha de Ouro.
8. Bengala electrónica para cegos (1986)
Esta bengala é dotada de um rodado o qual fornece ao utilizador invisual o relevo do solo por onde este se desloca. Graças a um detector de obstáculos e a um sistema de emissão/recepção de ultasons, o utilizador era informado da existência de um dado obstáculo a menos de um metro de distância, graças à produção de um sinal acústico audível.
Este invento foi o último a ser concebido pela elevada capacidade do seu criador, tendo ganho no Salão de Bruxelas, em 1986, a Medalha de Prata.
Consequências das Invenções
O desenvolvimento constante de ideias e equipamentos, a maioria dos quais reconhecidos internacionalmente, não teve da parte das empresas portuguesas a aceitação que se impunha, razão pela qual o Eng. Jaime Filipe foi “obrigado” a negociar com empresas estrangeiras o desenvolvimento final e respectiva comercialização, não tendo ganho qualquer valor a título compensatório, mas apenas a oferta de alguns aparelhos a serem usados no âmbito da actividade do CIDEF, tal como aconteceu com o OPTACON.
O OPTACON
Em 1959 o Engenheiro Jaime Filipe patenteia o Electrovisor - Sistema de Visão Táctil, uma ideia surgida em 1957, cuja adaptação é tornada realidade em 1971 com o OPTACON (OPtical to TActil CONverter) desenvolvido por prestigiados membros do Departamento de Engenharia Eléctrica da Universidade de Standford (EUA), a partir de 1962, entre os quais John G. Linvill e Jim Bliss que nesse ano criaram a empresa Telesensory Inc vocacionada para o desenvolvimento, fabrico e comercialização de produtos para pessoas com deficiência visual.
Enquanto o Electrovisor recorria a um par de óculos com foto-díodos e a duas placas aplicáveis às costas do utilizador, o OPTACON é um equipamento portátil, entretanto descontinuado desde 1996, cujo objectivo é o de converter texto impresso (letra preta em fundo branco e vice-versa) em informação táctil para cegos, constituído por uma micro-câmara de vídeo que recorre a 144 foto-transístores e a um sistema modular portátil de baixo peso que recorre a 144 estimuladores vibráteis dispostos numa matriz em forma de meia-cana com uma configuração de 24 x 6 os quais tornam as letras perceptíveis (em relevo) através do uso do dedo indicador esquerdo.
A micro-câmara é manipulada com a mão direita de modo a percorrer na perfeição as linhas de texto, estando atribuída a mão esquerda para a detecção dos caracteres captados pela câmara.
No sentido de permitir aos formadores o visionamento do caractere captado, recorre-se a um pequeno monitor baseado em LED’s, pelo que, após a necessária aprendizagem, é possível a leitura por um invisual de cerca de 70 palavras por minuto através do OPTACON, em contraste com a leitura de cerca de 130 palavras no mesmo espaço temporal recorrendo-se à descodificação directa através dos olhos.
Os primeiros Cursos de Formação em Portugal foram relatados no Boletim do CIDEF nº 6, respeitante ao trimestre Outubro/Dezembro de 1978, do seguinte modo:
“Como primeiro resultado da aprendizagem feita nos EUA, o CIDEF, que funciona no âmbito da Associação Portuguesa de Criatividade, promoveu o 1º Curso de Optacon para monitores realizado em Portugal, que está a decorrer. Foram inscritos neste Curso os seguintes Monitores:
Prof. José Teixeira (responsável)
Deolinda Alves Vieira Henriques
Manuel José Gonçalves Casquilho
Estes vão assegurar o funcionamento do Centro em aulas ao longo do dia, cobrindo os cinco dias úteis da semana. Os Cursos para monitores terão a duração de duas semanas. O tempo do curso dos alunos variará conforme o seu aproveitamento, não devendo exceder os 30 dias.
Encontram-se assim de parabéns os cegos portugueses, pois esperamos que este Centro seja o embrião de novas iniciativas neste campo que vêm revolucionar a pedagogia dos cegos no nosso país”.
Desde o arranque da sua comercialização até ao abandono da sua fabricação foram sendo adicionadas melhorias na prestação do mesmo como a sua aplicação a uma máquina de escrever através do uso de diferentes objectivas de captação dos caracteres, tendo resultado, em 1985, através de um protocolo de cooperação entre a Telesensory e a Canon, o OPTACON II, sendo notória a melhoria tanto no aspecto como nas prestações deste, em especial na sua ligação a computadores.
Durante a década de 90’ a Telesensory passou a dedicar-se mais intensamente ao mercado dos deficientes visuais do tipo amblíopes, em prejuízo do OPTACON, o qual deixou de ser produzido a partir de 1996, tendo a empresa anunciado que a partir de 2000 cessava o serviço de manutenção do equipamento.
Apesar da sua obsolescência, o OPTACON continua a ser um equipamento popular e de uso corrente pela comunidade invisual em todo o Mundo.
Outros Projectos de Invenções
Fora do âmbito da Engenharia de Reabilitação há a considerar entre outras a invenção das Bolas de Vento para microfones (1951), o “Orquestrola” (1959), que não era mais do que um teclado electromecânico polifónico, precursor do primeiro sintetizador conhecido por “Mellotron” usado à época pelos grandes grupos musicais como, p.ex., os “The Beatles” (Strawberry Fields Forever), assim como o projecto do “Relógio Padrão Mundial”, por nós concretizado em parte, mas abandonado por falta de apoio oficial, face aos custos a que o mesmo obrigava.
Escrevia assim, Jaime Filipe, no Boletim Informativo trimestral Inventiva da APC, do qual era Director, em Março de 1981, sobre o tema “as Bolas de Vento”:
“as bolas de vento
PARA MICROFONES, NASCERAM EM PORTUGAL
por JAIME FILIPE
Logo nas primeiras transmissões ao ar livre levadas a cabo pela então Emissora Nacional, surgiu o problema do ruído do vento captado pelos microfones. Esse ruído caracteriza-se por um som grave e agreste, semelhante ao rolar de um comboio o que afecta por vezes a própria inteligibilidade da palavra.
A sua causa é devida ao atrito que o ar produz na superfície do microfone, pondo em vibração a zona exposta ao vento, produzindo-se assim o ruído característico, de todos conhecido.
Numa das fases da minha vida fiz parte do pessoal técnico daquela Emissora tendo a meu cargo a captação do som.
Por esse facto muitos foram os exteriores em que tomei parte, e muitas foram as situações em que o ruído do vento afectou grandemente o nosso trabalho.
Destas, destaco os Jogos de Futebol, tantas e tantas vezes transmitidos em condições climatéricas adversas. Não existiam naquele tempo as «cabinas de som», de que estão dotados hoje a maior parte dos campos desportivos, pelo que as equipas ficavam junto ao campo, ao sol, à chuva e ao vento.
Para atenuar o efeito produzido pelo vento, era prática entre os locutores, meus queridos valorosos companheiros de trabalho, (alguns já desaparecidos, como é o caso de Domingos Lança Moreira, Nuno Fradique, Fernando Frazão, enrolarem
um lenço no microfone, expediente que resultava bastante bem e que se tornou comum nos longínquos alvores da rádio.
O aparecimento do fenómeno e a sua relativamente fácil «cura» através dum simples mas eficaz meio, ao alcance de qualquer pessoa, produto da imaginação criadora, mas anónima dos locutores da Rádio Portuguesa, levou-me a pensar e a analisar as causas daquele ruído, bem como a sua atenuação ou mesmo anulação.
«A intensidade do som varia na razão inversa do quadrado da distância»: é uma lei da Física. Isto significa que se eu afastar o som de uma unidade, a intensidade desce quatro vezes (de um para quatro). Se afastar de duas unidades, decresce dezasseis vezes! E assim por diante.
Se a fonte de ruído for devida ao atrito do ar sobre a carcaça do microfone, e eu afastasse a estrutura da célula do microfone (elemento vibrante), p ruído desceria substancialmente.
Tudo isto ocorreu no meu espírito, o que me levou a passar à prática.
Havia na Emissora Nacional um homem simples, jovem, mecânico de precisão de extraordinária vocação, mas desempenhando trabalhos menores, por incompreensão do seu real valor. Chama-se Horácio.
Vale a pena falar um pouco dele. Pela sua criatividade e pelo seu engenho era sem dúvida uma das pérolas mais preciosas que a natureza deu a este País, mas que este País como em tantos outros casos não soube nem quis compreender e aproveitar.
O Horácio casou-se. Poucos recursos, pai de um rapaz, desejava comprar-lhe brinquedos bonitos, mas o dinheiro não dava para tal. Assim, passou ele próprio a fazer os brinquedos para o filho. Mas que brinquedos! Veleiros, que nem de compra. Máquinas a vapor, pequenos veículos a motor... tão perfeitos que causavam a admiração de toda a gente.
Os amigos incitaram-no a vender os seus produtos, para realizar dinheiro, e o Horácio passou a ter artigos de seu fabrico nas melhores lojas de Lisboa, desde carretos para canas de pesca, a barcos ou aviões a motor, totalmente construídos por ele!... Sabem o que aconteceu ao Horácio?
Emigrou para o Canadá em busca de melhor vida e melhor entendimento para o seu invulgar mérito, por parte de uma sociedade mais preparada para o entender e aproveitar.
Três anos depois o Horácio veio a Portugal ver os pais. Já era então responsável pelo sector de micromecanismos duma grande empresa canadiana, a trabalhar em força para a NASA!
Certamente que o Horácio com o seu engenho e criatividade ajudou os foguetões americanos a irem à Lua!
Valeu certamente a pena recordar aqui amigos que por um ou outro destino saíram há muito do meu convívio, dado que estou certo de terem sido os criadores de coisas novas e interessantes que aqui refiro, entre elas a «bola de vento para microfones».
Um dia pedi ao Horácio para me construir uma esfera em arame de cobre, à qual foi aplicada um tecido. Introduzimos um microfone na abertura dessa esfera e fomos experimentar o engenho nas transmissões dos campos de futebol. O resultado foi o esperado. O ruído do vento quase desaparecia, mas o lenço também resolvia o problema menos mal.
A bola de vento com algum uso, amachucou-se, rompeu-se e acabou por ser posta de lado!
Os anos passaram, só muitos anos depois ela reapareceu nos microfones, mas desta vez fabricada e importada do estrangeiro, como grande novidade de excelente solução para resolver o problema do vento. Passaram a ter outro nome: WIND SCREEN! “
Ainda o 3D televisivo não fazia parte dos mais elementares estudos levados a efeito pelos grandes centros de desenvolvimento mundiais, já o Eng. Jaime Filipe me confidenciava a sua ideia de como reproduzir imagens tridimensionais através do recurso a raios Laser, ou seja, de um sistema que dispensava o uso de um ecrã físico constituindo-se as imagens no espaço, ou seja, as imagens mais não eram do que hologramas.
Como nota de rodapé, estão previstas as primeiras emissões experimentais da Televisão Holográfica para o ano 2030.
O Bichinho da Música
A sua ligação à actividade radiofónica, televisiva e discográfica, assim como o gosto pelo piano, levou-o à criação de várias músicas, algumas das quais interpretadas por sua mulher, a cantora Lina Maria, assim como duas marchas do seu clube de coração, o Sporting Clube de Portugal, uma com o título “Viva o Sporting” e outra chamada de Sportinguista, ambas em parceria com Tavares Belo e Rui de Mascarenhas, tendo cabido ao Conjunto Mário Simões a responsabilidade da interpretação.
Concorreu várias vezes ao Festival RTP da Canção, nomeadamente em 1964 com a canção “Para Cantar Portugal”, letra de Artur Ribeiro e música de Jaime Filipe em parceria com o maestro Tavares Belo, interpretação de António Calvário (6º lugar), em 1966, “Caminhos Perdidos”, letra de António Sousa Freitas e música de Jaime Filipe e Tavares Belo, interpretação de Madalena Iglésias (6º lugar) e 1970 com “A Voz do Chão”, sendo a letra de Francisco Nicholson e a música de Jaime Filipe e Victor Campos, cuja interpretação de Rute fê-lo arrecadar o 7º lugar.
Concorreu, também, ao Festival da Canção de Aranda do Douro (1º Festival Hispano-Português), em 1960, tendo conquistado o 3º Prémio (Canção ao Porto – letra e interpretação de Artur Ribeiro e música de Jaime Filipe), assim como ao Festival da Canção Portuguesa em 1964 (Figueira da Foz) no qual ganhou o 1º Prémio, tendo repetido o feito no ano seguinte com a canção “Agora Não” (letra de Artur Ribeiro, música Jaime Filipe e interpretação de Fernanda Diniz), tendo ganho, também, em 1965, o 1º Prémio do 1º Festival da Canção de Tavira.
Os serões em família eram constantes, como recorda a sua sobrinha-neta a Arquitecta Paisagista Milva Maggioni:
“Saudades da minha tia, e dos serões em família com todos a cantar e a tocar. Minha mãe e minha tia, irmã do meu pai (Professoras de piano), meu avô Engenheiro, mas óptimo Violinista, eu e minha avó Sopranos, meu pai Tenor, minha tia Lina cançonetista e meu tio Jaime Compositor e tocador de piano e órgão. Ainda bem que a Televisão estava ainda incipiente!”
Dando azo às capacidades musicais da família criou com sua esposa o Conjunto “Guida e Lina” salientando-se a canção “O Que Têm os Teus Olhos” face à popularidade alcançada, assim como o Conjunto “Orquestra Portuguesa de Dança”, tendo mantido com estes mais do que três anos de participações em programas radiofónicos virados para a música ligeira portuguesa tanto na “velha” Emissora Nacional como no Rádio Clube Português.
Rádio Triunfo
A edição discográfica passou a ser uma actividade que despontava em Portugal, sendo grande o sucesso alcançado com a fábrica de discos Rádio Triunfo, a qual tinha sede no Porto, pelo que a entrada em campo da acção de Jaime Filipe não se fez esperar, tornando-se o seu Delegado Artístico em Lisboa por um período de dezassete anos.
Enquanto funcionário da Emissora Nacional exercia em acumulação, apenas aos fins-de-semana, a actividade de Técnico de Captação de Som na Rádio Triunfo, para a qual contribuía imenso a sua experiência enquanto Técnico da Estação Pública de Rádio, tendo estado na origem de mais de dois mil números de música portuguesa, tendo registado vozes de consagrados artistas tais como João Villaret, Amália Rodrigues e outros, assim como fez a captação e registo do Hino Nacional interpretado pela Banda da Guarda Nacional Republicana.
A Musicorde
Desde os tempos da Emissora Nacional que a sua ligação ao mundo da produção musical esteve sempre presente, tendo sido, aliás, o Delegado em Lisboa da discográfica Arnaldo Trindade/Rádio Triunfo, a qual tinha os estúdios e a sede no Porto, assim como constituiu, em 1967, em sociedade com Alberto Santos, a empresa Musicorde-Estúdios de Gravação, Lda., cujas instalações encontraram na Rua Coelho da Rocha, 69, em Campo de Ourique, em Lisboa, o local próprio para o desenvolvimento da sua actividade.
O Estúdio da Musicorde foi considerado um dos mais evoluídos à data, contando, entre outros equipamentos de referência, um gravador Ampex de oito pistas, as quais eram registadas numa fita magnética de uma polegada (1”), o que tornava possível o registo de uma orquestra por naipes instrumentais, ficando esses registos num único suporte, o que tornava a sincronização entre os mesmos muito mais fácil.
Para além da captação directa de vozes e instrumentos, a Musicorde estava também capacitada tecnicamente para fazer as necessárias masterizações, tanto dos registos próprios como os efectuados noutros estúdios, nacionais ou estrangeiros, como aconteceu com o primeiro LP de Cesária Évora, com Fernando Tordo e outros.
No verão de 1979, a cantora Eugénio Melo e Castro gravou neste estúdio uma maqueta com quatro canções originais destinadas ao seu primeiro álbum registado em vinil. A edição posterior em CD, com o título genérico “Recomeço”, incluiu na capa um documento desta editora.
O Grupo Vocal Adventista Maranata, do qual fazia parte António Sala, era neste Estúdio que fazia o registo das vozes que mais tarde foram disponibilizadas em suporte de vinil, tal como aconteceu com a primeira “Big Band” portuguesa, a Orquestra Girassol, que 25 de Junho de 1978 gravou na Musicorde duas faixas que vieram a ser incluídas no seu primeiro trabalho em disco.
Outros nomes como os Táxi, Trovante, Paulo de Carvalho, Zeca Afonso e Lena D’Água, assim como publicidade radiofónica, ranchos folclóricos e bandas filarmónicas, são, entre outros, os que marcaram a vida desta empresa.
A Arte da Docência
A enorme facilidade de comunicação tanto verbal como gestual conferiam-lhe uma característica única na arte da transmissão de conhecimentos, usufruindo de tal apetência não só os formandos do Centro de Formação da RTP, mas também os alunos da Escola Superior de Jornalismo no Porto.